A sustentabilidade é um tema central no debate sobre o futuro do planeta, mas muitas vezes é abordada sem considerar as profundas desigualdades sociais que marcam o Brasil. A interseção entre raça e sustentabilidade é uma questão crítica, especialmente quando analisamos os impactos desiguais das mudanças climáticas e dos desastres naturais sobre a população negra.
No Brasil, a população negra compõe mais da metade da população total, cerca de 56%, segundo o IBGE. No entanto, essa maioria populacional é também a mais vulnerável em termos socioeconômicos. O Atlas da Vulnerabilidade Social, elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), revela que os negros estão mais concentrados em áreas de risco, como encostas e zonas ribeirinhas, tornando-os mais suscetíveis a desastres naturais como enchentes e deslizamentos de terra.
As enchentes que ocorreram no Rio Grande do Sul em maio de 2024 exemplificam essa vulnerabilidade.
Comunidades majoritariamente negras, localizadas em regiões periféricas e metropolitana de Porto Alegre, sofreram com a perda de vidas, destruição de moradias e deslocamento forçado.
Além disso, a falta de acesso a serviços básicos, como saneamento e saúde, agrava as consequências dos desastres para essas populações. Essa disparidade aumenta a exposição a doenças e limita a capacidade de recuperação após eventos climáticos extremos.
Para enfrentar essa realidade, é fundamental que as políticas de sustentabilidade e de combate às mudanças climáticas incorporem uma perspectiva de justiça racial. Isso inclui garantir que as comunidades negras, historicamente marginalizadas, sejam prioritárias nas estratégias de adaptação e mitigação. O fortalecimento das infraestruturas em áreas vulneráveis, a criação de programas específicos de apoio e a promoção da participação ativa dessas comunidades na formulação de políticas são passos essenciais para a construção de um futuro mais justo e sustentável.
A sustentabilidade não pode ser dissociada da equidade racial.
No contexto brasileiro, isso significa reconhecer que a crise climática é também uma crise de desigualdade social e que a busca por um desenvolvimento sustentável deve incluir, centralmente, a luta contra o racismo estrutural. Somente assim será possível construir um país mais resiliente, onde todos possam viver com dignidade e segurança.
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